segunda-feira, 22 de agosto de 2016

CEMITÉRIO NOSSA SENHORA DA PIEDADE - 161 ANOS GUARDANDO HISTÓRIAS INTERROMPIDAS


Foto antiga do Cemitério N. Sra da Piedade
Foto atual do Cemitério N. Sra. da Piedade
Cemitério Nossa Senhora da Piedade foi criado através da Lei nº 130, de 6 de julho de 1850 estabelecendo que o governo estava autorizado a construí-lo no lugar que julgasse apropriado. Na fala Presidencial de novembro daquele ano, o governante explicou que a escolha do local foi objeto de profundos estudos e que para tal foram mobilizados “todos os médicos e engenheiros existentes na Cidade”. ano final do século XIX.
A criação se deve a falta de um cemitério em Maceió, o que preocupava a população porque era tempo de epidemias e suas terríveis consequências para a população, principalmente os mais pobres. Os espaços para inumações ficavam restritos aos cemitérios das igrejas, ou mesmo as suas áreas internas, onde os mais abastados procuravam para última morada. A decisão de construir um cemitério em Maceió foi tomada pelo presidente em exercício da província de Alagoas, Dr. Manoel Sobral Pinto, 
Para a escolha do terreno foram levados em consideração a direção dos ventos, natureza do solo, topografia e vizinhança.
O terreno formado por “arèa granitosa” na região onde hoje é o bairro do Prado, também apresentava problemas para a instalação de um cemitério, no entendimento da comissão. O relatório aponta que este solo permitia facilmente a evaporação da umidade, principalmente pelo calor. Um local quente e sem umidade dificultaria “se realizar a fermentação pútrida dos cadáveres”, que ficaria seco. A solução indicada no relatório era tirar uma camada de areia e substituí-la por barro.

O jornal O Correio de Maceió de 29 de setembro de 1850 publica o expediente do governo informando que foi ordenado ao engenheiro Pedro José Schranback que marcasse e fizesse o quadro de alicerce para a edificação do cemitério, preparando para receber a primeira pedra.
Definido o local, a obra é levada em hasta pública conforme editais publicados no O Correio de Maceió de 3 e 7 de novembro de 1850. Ao que tudo indica, até 1954 nenhum licitante se habilitou e o presidente da província, Roberto Calheiros de Mello, resolveu que a própria administração pública construiria o cemitério. Foram utilizados 3.000$000 réis consignado pelo Ministério do Império, mas naquele ano foram gastos 8.000$000. As obras tiveram início em junho de 1854.
Em 1855, o presidente da província, Antonio Coelho de Sá e Albuquerque, anunciava que as obras estavam “muito adiantadas”, e que o cemitério já contava com 274 catacumbas, sendo 198 construídas com recursos públicos e “as outras por conta das diferentes confrarias existentes nesta Cidade”. A “área quadrada” era de 597 palmos de face.

Em novembro do mesmo ano, Roberto Calheiros de Mello, presidente em exercício, reclama da morosidade das Confrarias na construção das suas catacumbas, e que isso estaria atrasando a utilização do cemitério. Ele informa ainda que para a conclusão da Capela estariam faltando apenas o altar e as portas.

A mitológica Mulher da Capa Preta no Cemitério de Nossa Senhora da Piedade

Como as irmandades não construíam suas catacumbas e havia a ameaça da cólera, o presidente Sá e Albuquerque anunciou, em 1856, que o próprio governo assumiria a conclusão da obra, mas fez questão de denunciar os que não cumpriram com os compromissos. “Apenas duas, as do Sacramento e Martyrios, construiram as que lhes pertenciam”. 
O cemitério começou a funcionar ainda  em 1855, mesmo com algumas obras em andamentos. O ano seguinte, a situação era a mesma e Sá e Albuquerque resolveu nomear uma comissão para administrar as obras, além de reconhecer as elevadas despesas com a construção. Nesta época a antiga Estrada do Trapiche já era conhecida como Estrada do Cemitério, que ainda não tinha denominação. Era simplesmente o Cemitério Público de Maceió.
Após 24 anos de funcionamento, o Cemitério da Piedade já reclamava por manutenção.  O jornal O Orbe de 4 de julho de 1879 noticia, em matéria de primeira página, o estado de abandono do cemitério público de Maceió. “Lagedos de cimento despedaçados completamente, canteiros de flores destruidos, vasos inutilizados, uma aridez bem significativa do abandono e triste, as escavações produzidas pelas formigas minando as bases dos mausoléus”.  O jornal informa ainda que o cemitério está a encargo de uma instituição de caridade.
Segundo Felix de Lima Júnior, em Cemitérios de Maceió, quando inaugurado, em 1955, o cemitério passou a ser chamado de Nossa Senhora da Piedade, ficando ao encargo da mesma irmandade que administrava a Santa Casa de Misericórdia de Maceió. Somente em 1880 é que a municipalidade assumiu o seu controle.
O velho problema da localização do cemitério volta à tona 38 anos depois. Em 1893, o governador Gabino Besouro enviou mensagem à Assembleia Legislativa pedindo o fechamento temporário do cemitério para reformas. Ele temia que as infiltrações no terreno poroso pudessem afetar as habitações e edifícios que já tinham sido construídos no entorno do cemitério.
O mais antigo cemitério de Maceió, após 161 anos de serviços prestados ao maceioense, continua a funcionar plenamente, mesmo não recebendo os investimentos necessários para um equipamento tão importante para a capital. Além de guardar os corpos dos falecidos, o Cemitério de Nossa Senhora da Piedade também preserva belo patrimônio artístico nas peças esculpidas para os mausoléus, que são objetos de vários estudos acadêmicos.
As catacumbas revelam o status das familias que repousam em paz em suas últimas moradas.


Túmulo de Muniz Falcão - Governador/Al



Monumento aos ex-combatentes

http://www.historiadealagoas.com.br/cemiterio-de-n-s-da-piedade-completa-160-de-historias.html


Nenhum comentário:

Postar um comentário