terça-feira, 18 de abril de 2017

A RIQUEZA DO FOLCLORE ALAGOANO E O LEGADO DE CLAUDIO MANOEL DUARTE DE SOUZA


O FOLCLORE ALAGOANO
Para conhecer o folclore alagoano é preciso conhecer a história de Cláudio Manoel Duarte de Souza é bacharel em Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas (1990) e Mestre em Comunicação e Cultura Contemporânea pela Universidade Federal da Bahia (2003), na Linha de Pesquisa em Cibercultura. Atualmente é professor no Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias Aplicadas (Cecult) da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Foi membro do Conselho Curador da Fundação Hansen Bahia. Foi conselheiro-titular do Conselho Estadual de Cultura do Estado da Bahia. É lider do Grupo de Estudos e Práticas Laboratoriais em Plataformas e Softwares Livres e Multimeios – LinkLivre (CNPQ/UFRB). É pesquisadro no Núcleo de Pesquisa em Experiência, Comunicação e Audioculturas (ECA – UFRB). Foi pesquisador do Grupo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Arte, Audiovisual e Patrimônio (GAAP-UFRB). Integra o grupo artístico Coletivo Xaréu, de arte eletrônica. Fundador e produtor cultural do Pragatecno (coletivo de djs). Foi professor convidado na Universidade de Bayreuth (Alemanha), no Instituto de Estudos Africanos. Foi chefe do Núcleo de Gestão de Cultura, Comunicação e Divulgação da Proext-UFRB. Foi coordenador do Núcleo de Cultura e Universidade da Proext-UFRB. Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em Comunicação Integrada e Novas Mídias, Jornalismo Digital, Cibercultura, Multimeios, Djing e Produção Cultural. Doutorando no Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade (IHAC-UFBA), na Linha de Pesquisa Cultura e Arte. (SOUZA, C.M.D.)
Graças a esse historiador é possivel conhecer com riqueza de detalhes a história e evolução do folclore alagoano.
Alagoas é o Estado brasileiro que possui a maior diversificação em folguedos. Possuímos quatorze folguedos natalinos, dois folguedos de festas religiosas, quatro folguedos carnavalescos, quatro folguedos carnavalescos com estrutura simples, dois torés e três danças, totalizando vinte e nove folguedos e danças alagoanas.
O que diferencia o folguedo da dança “é o sentido de representação, ausente na dança e presente nos folguedos”, segundo o folclorista Roberto Câmara Benjamim.
Boi de Carnaval

Boi feito com armação de madeira e coberto com tecido vistoso ou chitão. Sai às ruas durante os três dias de carnaval fazendo pedincha de dinheiro, de bebida ou vendendo o boi. Sua origem é européia, africana e ameríndia. Os bois que surgem em Alagoas recebem influência dos bumbas, reisados e guerreiros.
Ursos de Carnaval (La Ursa)
Grupos de carnavalescos que saem às ruas brincando com um urso feito de estopa e fibras vegetais. Sai da sede e dança de porta em porta fazendo pedincha de dinheiro, bebidas e gêneros alimentícios.
Os Gigantões (Bonecas)
Bonecas gigantes que possuem de dois a três metros de altura. Veste-se com tecido colorido de chitão. De origem européia são comuns em procissões e festas. A boneca é conduzida por um homem localizado no seu interior. O cortejo é formado ainda pelos tocadores e eventuais participantes.
Cobra Jararaca
Grupo constituído de dez a quinze pessoas que trajando shorts, lambuzam-se com tintas e pós e brincam durante o carnaval amarrados por uma corda. A brincadeira foi criada por um pescador chamado Mané do Balaio a muitos anos passados.
Toré de Índio
De aculturação indígena, os caboclos dançam em círculos, fazendo movimentos coreográficos simples e ritmados para agradecer e agradar as divindades ou para rezar suas orações.
Toré de Xangõ
De origem indígena, o toré é prática de terreiro afro-brasileiro. Corresponde ao catimbó e a pajelança de outros Estados. É a reunião dos crentes com a finalidade de encontrar remédios para os doentes, que são recebidos através dos caboclos que “baixam” e receitam ao som dos maracás. Como manifestação folclórica, comparável no sentido de apresentações, a um folguedo qualquer, um reisado, um guerreiro, etc.

Folguedos Carnavalescos

Essas manifestações são resíduos de importantes folguedos natalinos alagoanos, em alguns casos havendo transposição direta como é o boi-de-carnaval, que foi extraído de entremeios dos guerreiros e dos reisados. As músicas tocadas têm ritmo forte, contagiante, algumas são chamadas de “pancadas-motor”. As cantigas, algumas improvisadas e outras decoradas, são “tiradas” pelo mestre, sendo respondidas pelas baianas.
Negras da Costa
Dança cortejo, sem enredo ou drama, formada por homens vestidos com trajes convencionais de baianas que dançam ao som de ganzás e reco-reco. São adaptações alagoanas dos maracatus pernambucanos, sem nenhuma ligação com as religiões afro-brasileiras.
Samba-de-Matuto
Dança cortejo, sem enredo ou drama, na qual as cantigas dançadas fazem referência a Santos católicos, a espíritos das religiões afro-brasileiras e as cenas do cotidiano. Possui identificação com os terreiros de xangôs. Antes de cada apresentação o mestre acende três pontos de velas para que os orixás permitam o bom andamento do folguedo.
Caboclinhas
Dança cortejo, sem enredo ou drama semelhante aos baianais e samba-de-matuto. Os personagens trajam-se com reisados e cantam fazendo referência a caboclas, temas do cotidiano e de amor acompanhados por bandas de pífanos. Não possui influência ou ligação com os caboclinhos de Pernambuco.

Folguedos de festas religiosas

No calendário cultural do Estado de Alagoas vamos encontrar as Festas de Santos Católicos. Essas festas, geralmente montadas na Matriz local, contam, além da parte religiosa (missas, novenas, procissões), com quermesses, leilões, jogos de azar, bares, etc. Contam também com a presença de folguedos oriundos do período natalino e carnavalesco.

Mané do Rosário
Grupo de mulheres e homens mascarados que dançam, pulam e se requebram ao som da dança de pífanos. Surgiu em 1762, durante a festa em homenagem ao Santo quando apareceram dois mascarados que brincavam e dançavam na porta da Igreja. Todos os anos, por ocasião da festa, sugiram os mascarados e ninguém conseguia saber quem eram. Em 1776, sumiram. A comunidade resolveu copiar os trejeitos e as danças e, como não soubessem o nome da brincadeira, atribuíram o fato ao morador Manoel do Rosário, pessoa que gostava de dançar reisado e maracatu.
Bandos
Grupos de mascarados, uns a cavalos, outros a pé, que fazem corridas pelo povoado anunciando, com antecedência a festa do Santo (Santa Luzia) que irá acontecer em breves dias. O grupo corre e dança ao som do Esquenta Mulher e participam da procissão e convocam o povo a participar da festa.
Pastoril
É o mais conhecido e difundido folguedo de Alagoas. É uma fragmentação do Presépio, sem os textos declamados e sem diálogos, constituídos apenas por jornadas soltas, canções e danças religiosas ou profanas de épocas e estilos variados. Como os Presépios, origina-se de autos portugueses antigos, guardando a estrutura dos Noéis de Provença, França.
Pastoril dos Estudantes
Influenciado pelos pastoris profanos de Pernambuco, como Pastoril do Faceta, Pastoril do Barroso, originou-se dos antigos presépios religiosos. Apareceu em Alagoas na zona norte do Estado a partir da década de 30.
Maracatu
Dança processional e cortejo real, parte dos reinados dos congos. A palavra maracatu é de origem africana que significa dança ou batuque. O Maracatu pernambucano penetrou com tanta intensidade em Alagoas que criou formas alagoanas dessa manifestação, assim como as cambindas, o samba-de-matuto, as negras da costa, baianas e as caboclinhas.
Taieiras
Dança cortejo de caráter religioso afri-brasileiro que faz louvação a São Benedito e Nossa Senhora do Rosário, padroeiros dos pretos. De aculturação africana, ligados aos reinados dos congos e estrutura na época da escravidão, seus principais personagens são: rei, rainha, mateu, catirina, crioula, figural e africanas.
Baianas
Grupos de dançadores trajados com vestes convencionais de baianas, que dançam e fazem evoluções ao som de instrumentos de percussão. Constitui uma modificação rural dos maracatus de Pernambuco com elementos dos pastoris e dos cocos com a denominação de Samba-de-Matutu ou Baianal. Não possui enredo determinado. As baianas cantam uma seqüência constituída de marchas de entrada ou abrição de sede, peças variadas e, por fim, a despedida.
Quilombo
Não existe, de nenhum modo, ligação entre o fato histórico dos Quilombos dos Palmares com o folguedo. O Quilombo é uma adaptação local ou uma reinterpretação de origem branca e erudita de danças brasileiras e européias que demonstram lutas ora entre negros e brancos ou, mouros e cristãos ou negros e índios (caboclos). O auto é apresentado em barracas ou ranho de palha, enfeitado com bandeirinhas e realiza-se em três etapas. É acompanhado pelo som do Esquenta Mulher (banda de pífano)
Cavalhada
Desfile, corrida de cavalos e jogos de argolinha, realizado em amplas praças próximas às igrejas. Teve origem nos torneios medievais, tendo como participantes doze cavalheiros ou pares que são divididos em cordão azul e encarnado. As cavalhadas são encontradas em quase todos os municípios de Alagoas e se apresentam por ocasião do Natal ou festas de Santos.
Reisado
Auto popular profano-religioso, formado por grupos de músicos, cantores e dançadores que vão de porta em porta, no período de 24 de dezembro a 06 de janeiro, anunciar a chegada do Messias, homenagear os três Reis Magos e fazer louvação aos donos das casas onde daçam. De origem portuguesa, sua principal característica é a farsa do boi que constitui um dos entremeios, onde ele dança, brinca, é morto e ressuscita.
Guerreiro
Grupo multicolorido de dançadores e cantadores, semelhantes aos Reisados, mas com maior número de figurantes e episódios, maior riqueza nos trajes e enfeitos e maior beleza nas músicas. Surgiu em Alagoas entre os anos de 1927 e 1929, sendo resultado da fusão de Reisados alagoanos e do antigo e desaparecido Auto dos Caboclinhos, da Chegança e dos Pastoris. Possui em média 36 personagens entre rei, rainha, mestre, contramestre, palhaço, etc.
Bumba-meu-boi
Auto popular de temática pastoril que tem na figura do boi o personagem principal. Aparece em todo o Brasil com nomes parecidos. Em Alagoas a apresentação do Bumba é semelhante a um teatro de revistas, com desfiles de bichos ao som de cantigas entoadas por cantadores do conjunto musical que faz o acompanhamento.
Chegança
Auto de temática marítima versando temas vinculados à vida no mar, às dificuldades como tempestade, contrabando, briga entre marujos e lutas entre cristãos e mouros infiéis, seguidores de Maomé. Deriva-se das “mouriscadas” peninsulares ou das lutas e danças entre cristãos e mouros da Europa. É de origem ou aculturação européia.
Fandango
Auto de assunto marítimo que corresponde a Marujada, Barca e Nau Catarineta de outros Estados brasileiros. Não possui enredo ordenado e lógico. É apresentado em um barco construído em terra, com palanque, onde são entoados cantigas náuticas de diversas épocas e origens. Possui nítida formação portuguesa.
Marujada
A marujada que aparece em Alagoas possui elementos de folguedos náuticos, reisados, taeiras, pastoris etc. Por ser variante do Fandango, possui origem lusitana, juntando-se a outras culturas.
Presépio
Auto apresentado em três atos que versa sobre o nascimento de Jesus Cristo. Conhecido também como Pastoril Dramático, corresponde ao Auto das Pastorinhas de outros Estados. Origina-se dos antigos autos Portugueses que eram formados de dramatização medieval.
Dança-cortejo, sem enredo ou drama, na qual as cantigas dançadas fazem referências a assuntos do cotidiano e santos católicos. Embora cultuem São Benedito, nos cânticos não há a menor referência a seu nome, nem o grupo possui ligações com as religiões afro-brasileiras. Cambindas são sinônimos ou adaptações alagoanas dos Maracatus de nação, oriundos de Pernambuco, penetrados em Alagoas através dos municípios da região norte do Estado. Cabinda, Cambinda ou Kabenda, segundo Mário de Andrade, era um reino de gente africana próximo de Loanda, Angola. Nina Rodrigues identifica os Cambindas aos conguenses. Na verdade, eram indivíduos de diferentes tribos, que tomaram o nome genérico do Golfo de Cambinda, onde embarcavam para o Brasil. As músicas tocadas para as danças têm rítmo forte, contagiante, algumas são chamadas de “pancada-motor”. As cantigas, algumas improvisadas e outras decoradas, são “tiradas” pelo mestre, sendo respondidas pelas baianas.
Mestre Venâncio e Mestre Verdelinho


Nome: Manoel Venâncio de Amorim (falecido)

Conhecido como: Mestre Venâncio

Atividade reconhecida: Mestre de Guerreiro

Local e Data de Nascimento: Capela/AL, Povoado Monte Alegre, 20/04/1924.

Endereço: Rua Santa Luzia, 63 - Tabuleiro - CEP 57080-000

Localização: Maceió - Alagoas - Região Metropolitana
Contato: (82) 3324-4391

Registro: Resolução nº 01/2005, Livro de Tombo nº 05, à folha 07 verso, a partir de 13 de maio de 2005.

Histórico: Nasceu no Engenho Monte Alegre, Capela - Alagoas, no dia 20 de abril de 1924, filho de Cícero Venâncio de Amorim e de Antônia de Amorim.
Afamado mestre de reisado e guerreiro, embolador e coquista, aprendeu com seu pai as cantigas de pagode, o respeito e o amor as tradições populares, no Engenho Monte Alegre, de propriedade do Sr. João Vieira de Almeida, seu padrinho. Aos 14 anos de idade já era contramestre de reisado:

“Ou de casa, ou de fora
Ou de casa, ou de fora - bis
Criada vai vê quem é
É o cravo, é a rosa
È a assuscena no pé
Ou senhor dono da casa
Olho da cana caiana – bis
Quanto mais a cana cresce
Mais aumenta sua fama”
Deixou o reisado e foi aprender a tocar viola, fabricando seu instrumento com “corta” da palha do coco catolé. Assim começou a tocar viola e pagode com seu pai, tocando também pandeiro, ganzá e bizunga (instrumento feito com cabaça e fibra de titara).

Pedreiro de profissão, dono de um humor invejável, em 1945 veio residir em Maceió, no bairro de Bebedouro onde começou a dançar no guerreiro do mestre João Rosa. Dançou também com mestres afamados, como: Manoel Lourenço, Manoel Cândido, do Tabuleiro dos Martins, Luís Moreno, na Goiabeira, Jorge Ferreira, de Bebedouro, João Amado, do Vergel do Lago.


Mestre Verdelinho (falecido)

Mestre de Embolada / Maceió - Alagoas - Região Metropolitana

Nome: Mario Francisco de Assis - Verdelinho
Data de nascimento: 24/02/45
Endereço: Rua dos Coqueiros, 614, Chã da Jaqueira, Maceió - Alagoas
Contato: (82) 8808-5849 (filho Nildo)
Localização: Região Metropolitana
Histórico: Nascido na fazenda Ligação/ Usina Utinga/AL, no dia 24 de fevereiro de 1945 é filho de Manoel Francisco de Assis e Otilia Maria da Conceição.
Tem como profissão, desde os oito anos de idade, ser cantador e poeta, pois saia com seu pai para as feiras, “tirando da rima o sustento da vida”.
Saiu cedo de casa, tornando-se amigo do mestre Curió com quem continuou a cantar em feiras e nas portas de cinemas.
Passou a ser cantador de coco ou pagode, cantando com Corió e Canário nos mais diversos ambientes, -“achava bonito o violeiro cantando acompanhado pela viola as histórias escritas no Cordel: “As Bravuras de Nequinho e Jandira”, “Josina e Vicente”, “O soldado Jogador”, passei também a cantar. Depois, empolgado pelos diversos gêneros da viola passou a cantar seistilhas, galope a beira mar, quadrão a beira mar.

No sítio Chã da Mangueira, em São Miguel dos Campos conheceu o cantador Sebastião Maceno que o incentivou ainda mais o gosto pela cantoria
Os grupos, os folguedos alagoanos, se mantêm vivos fundamentalmente por
causa do amor e empolgação dos “mestres” – figuras mais velhas dos grupos. Eles
criam novas músicas, tocam instrumentos e ensinam a tradição aos novos adeptos
do folguedo.
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* Texto do pesquisador José Maria Tenório no folheto Folguedos Populares. Fotos do acervo da Asfopal e de Del Irerê, cedidas em 1998.
Fonte:
https://claudiomanoel.wordpress.com/folclore-alagoano/
http://www.cultura.al.gov.br/politicas-e-acoes/patrimonio-vivo/cadastros-mestres-rpv-al/ano-2005/manoel-venancio-de-amorim-in-memoriam
http://www.cultura.al.gov.br/politicas-e-acoes/mapeamento-cultural/cultura-popular/mestres-dos-saberes/mestres-de-embolada/mario-francisco-de-assis-m.-verdelinho

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